Quem nunca se questionou se existe solução para os problemas da sociedade? Os problemas são inúmeros e possuem múltiplos fatores. Eles desencadeiam um mal estar na sociedade e no sujeito que a psicanálise chama de sintoma. O adoecimento de ordem emocional é iminente e o desabamento ao sofrimento é real. Ninguém consegue fugir para um lugar livre de problemas e sofrimentos. Nesse contexto de sofrimento
particular ou coletivo, a psicanálise se propõe a aliviar os sintomas e conceder ao sujeito os recursos necessários para tratamento dos sintomas. Porém, como afirma Maurano (2010), "o caráter propriamente utilitário da psicanálise não pode ser abordado rigorosamente". A psicanálise também busca pensar sua utilidade num plano mais amplo: no entendimento da cultura contemporânea e em como ela pode auxiliar a condição humana face aos múltitplos desafios da nossa cultura, sem dispensar a responsabilização do sujeito nos dilemas apresentados.
Mas quando falamos em sintoma do sujeito não se pode dissociar o sujeito de um outro, dado que esse não se encontra sozinho no mundo.
É permeado por relações, e nas relações pela linguagem. E são nessas relações com um outro que o sujeito se vê por falta. “Foi a inquietação da falta, vivida na contemporaneidade, como falta de amor, ou insatisfação sexual, que deu origem à invenção da psicanálise” (MAURANO, 2010, p. 12). A pulsão (não propriamente um instinto) é o que move o sujeito para dentro das relações. E é por isso que não podemos deixar de adentrar no campo da libido para conhecer os fatores que impedem ou paralisam o ser de vivenciar as proposições da vida de maneira livre e responsável face às inquietações.
É a subjetividade, característica do sujeito pensante, que tem um psiquismo, o meio pelo
qual causa confusão à racionalidade, fazendo imperar as emoções e as “interferências da
singularidade” no pensamento (MAURANO, 2010). Esse produto próprio do homem moderno nasce a partir do acolhimento da libido – “tentativa de resolução dos impasses da vida pela via da libido” (MAURANO, 2010, p. 28) –, e é essa pulsão que a psicanálise se coloca a observar. É a pulsão que trabalha na estrutura ilógica do nosso psiquismo, fazendo com que nos tornemos o sujeito que desconhecemos: “Eu não é senão a fachada de nós mesmos, ao sujeito que somos. O que realmente somos escapa à possibilidade de apreensão do Eu”. (MAURANO, 2010).
A psicanálise consiste em devolver o sujeito a ele próprio.
Na análise, os sintomas serão devolvidos como um sinal do que o sujeito é, de forma paradoxal como um meio de obter satisfação entre o prazer e a dor (MAURANO, 2010). O sintoma, na análise, é a expressão do desejo em paradoxo com o mal estar provocado. “A clínica psicanalítca não é senão a clínica do desejo e seus impasses” (MAURANO, 2010, p. 48).
REFERÊNCIAS
MAURANO, Denise. Para que serve a psicanálise?. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. E-book (68 p.).
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