A Escola Francesa de psicanálise foi iniciada por Jacques Lacan ( 1901-1981) sendo um grande marco no movimento psicanalítico, visto que esse movimento traz importantes mudanças tanto na forma da prática analítica quanto na forma conceitual. Lacan dizia-se freudiano, embora tenha desdenhado de certo modo o campo do inconsciente quando disse que a análise “não deve ficar reduzida à mesquinharia exclusiva do mundo interno”. (Lacan apud Zimerman, 2007).
Essa Escola propõe analisar aspectos do comportamento do sujeito a partir das interferências exteriores da cultura e das relações sociais, chamando essas interferências de símbolos que irão produzir “significantes” que por sua vez revelarão significados no campo do simbólico. Chama esse processo de cadeia de significantes amarradas à estrutura da linguagem. Para Lacan, o inconsciente é estruturado como uma linguagem, onde atribui-se a cadeia de significantes e significados, que, imbricados, traçam a forma como o sujeito se vê e se coloca no mundo. Ou seja, o sujeito é falado antes de ser tornado sujeito, quando passa a viver a socialização.
Mas essa contradição aparentemente dialética do conteúdo de Lacan reside, em parte, numa oposição às escolas anteriores. Lacan não ignora as relações objetais, mas afirma que “a inveja e a agressão em geral não seriam inatas e primárias, mas sim elas surgem quando é desafiado e frustrado o registro imaginário do sujeito (na sua crença onipotente de que ele tem uma fusão e posse da mãe)”. (Zimerman, 2007). Essa talvez seja a oposição mais notória em relação aos Teóricos das Relações Objetais.
Lacan ampliou a psicanálise se aprofundando em alguns aspectos importantes do psiquismo: i) a maneira como o sujeito se reconhece pertencente um corpo é um registro acompanhado de como o outro o enxerga. Nessa fase do desenvolvimento humano, o sujeito passa de uma noção de corpo fragmentado (partes aleatórias) para um corpo unificado, reconhecendo-se a si. A maneira como a criança passa pelo “estádio do espelho”, em parte define a sua personalidade e estrutura psíquica. Analogamente, o Ego forma-se na condição daquilo que não somos mas queremos ser, atrelado ao que o outro diz sobre o que somos ou que devemos ser, como uma imago antecipatória imaginária - igualmente reproduzida no reconhecimento corporal. O que eu sei de mim, não é exatamente o que o espelho diz. Essa condição pode explicar alguns transtornos de personalidade e até sintomas neuróticos.
Lacan em sua empreitada na compreensão do psiquismo do sujeito explora alguns conceitos que, segundo ele, foram revisitados da teoria de Freud: objeto “a” (o qual diz ser seu único conceito original); o Grande Outro; sujeito suposto saber (SSS); falaser; outro (a’); Alingua; destituição subjetiva como forma de cura em psicanálise; Inconsciente como linguagem; real, imaginário e simbólico (como releitura dos elementos que Freud conceituou: id, ego e superego), estádio do espelho (como citado acima).
O conceito de objeto “a” se refere a essência do desejo humano, é como se a psique humana desejasse desejar, pois assim que alcança o que se deseja a psique lança foco sobre outro desejo. No que se refere ao conceito do Grande Outro ou SSS trata-se daquele que é o detentor do saber e que cabe a este delegar seus mais profundos desejos e confiar que este é portador da verdade, é aquele que se tem como exemplo a ser seguido, no caso como o papel que o psicanalista passa a ser visto pelo analisando. O Grande Outro não tem significantes. O Grande Outro diferencia-se do outro, porque este é arauto daquele (GERBASE, 2010). O Grande Outro não é um arauto. O outro (a’) é um sujeito composto por significantes: um pai, uma mãe, um padre, um pastor. Falaser é o sujeito do inconsciente. Alíngua é a estrutura de linguagem do inconsciente. O inconsciente é estruturado como uma linguagem. Já a destituição do sujeito se dá quando o sujeito em análise destitui o analista do lugar de suposto saber, dando fim a análise uma vez que não há mais relação transferencial pois o paciente se encontra com um ego fortalecido.
Portanto Lacan apresenta uma importantíssima contribuição à psicanálise no que se refere a compreensão sobre o desejo, a formação do sujeito, a linguagem, o Lugar do Outro.
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